Li-o pela primeira vez com cerca
de 11 anos. Era da minha mãe, mas ela nunca mais o lia, e ele ficava para ali
abandonado numa das prateleiras da estante da sala a olhar para mim, como se
dissesse “Lê-me, por favor!” E li-o, às escondidas da minha mãe, pois lembro-me
de lho ter pedido emprestado uma vez e ela ter dito que não, que o livro não
era para a minha idade.
Foi o meu primeiro livro de
romance a sério. Quer dizer, eu já lia aquelas coleções da Ana Maria Magalhães
e da Isabel Alçada, quer a coleção Uma Aventura, quer a coleção Viagens No Tempo, entre outras coisas que ia encontrando na biblioteca da escola. Mas esses
eram para crianças, pensava eu. Se me perguntarem qual foi o livro que marcou a
minha infância, direi sem sombra de dúvidas que foi este. Até hoje, já o li umas
5/6 vezes, e encontro sempre algo novo nele.
Sinopse: “Lê-se como um romance,
mas a vida de Marina Nemat não se parece mesmo nada com um romance: 1982 foi um
ano negro para o Irão. A guerra com o Iraque acendia-se e o novo regime de
ayatola (espécie de rei, expoente máximo da hierarquia islâmica, dentro da
crença xiita) Khomeini já rivalizava com a do Xá (título de realeza) em
brutalidade. Eram perseguidos todos aqueles que se opunham á mão de ferro da
revolução islâmica fundamentalista. Marina, que pertencia a uma família
católica, tinha apenas dezasseis anos quando, na escola, reclamou que tivessem
substituído a aula de Matemática pela leitura do Corão e criticou o governo no
Jornal escolar.
Foi arrancada à família, presa,
torturada e condenada á morte por traição, mas um dos seus carcereiros apaixonou-se
por ela e conseguiu que a pena fosse comutada em prisão perpétua. Esse gesto
porém, tinha um preço…
Poéticas, apaixonantes e
recheadas de graça, estas memórias de Marina Nemat são ímpares. A busca da sua
redenção emocional envolve os seus carcereiros, o seu marido e a sua família –
e a todos ela oferece o maior dom de todos: o perdão.”
Acho que a sinopse explica muito
bem do que se trata o livro, portanto vou dizer mais algumas coisinhas e depois
finalizar com a minha opinião.
A história é relatada na primeira
pessoa, ou seja pela Marina, uma jovem russa que foge da revolução com a
família para o Teerão. Pouca sorte, pois pouco tempo depois, o Teerão também sofre
uma revolução. Marina é uma rapariga inteligente e não se deixa acomodar,
questiona sempre tudo. Ao protestar contra a professora por ter substituído a
aula de Matemática por aulas de leitura do Corão, é considerada uma ameaça à sociedade islâmica, e denunciada pela própria professora, acaba por ser levada
para Evin, uma prisão política. O resto vocês podem entender através da sinopse.
A narração cronológica dos
acontecimentos não segue a ordem em que estas aconteceram, ou seja Marina alterna
passagens da sua vida como prisioneira política em Evin, com a sua vida antes
desse pesadelo, ou seja a infância e adolescência (por capítulos). Há quem não
tenha gostado desse aspeto, pois pode ser um pouco confuso acompanhar. Quando
eu li o livro pela primeira vez também não entendi nada no início. Mas aprendi
a gostar, e acho que o resultado final até ficou bem conseguido.
É um relato triste e muito duro
de apenas mais uma vítima, e cuja essência da história ainda é bem atual. As
barbaridades que o homem fez e continua a fazer em nome da religião, são
revoltantes e assustadoras. Mas bem, este é um livro que eu recomendo, sem
dúvida, a toda a gente!
Já conheciam este livro? Ficaram
com vontade de o ler? xx