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03/05/2017

Vamos falar sobre Dear White People.


Este post não contém spoiler

Estava a teminar de assistir Sense 8 (post sobre em breve) quando vejo destacado no catálogo da Netflix "Dear White People". Ouvira falar da série meses antes por conta dos boicotes nos EUA. Acabou por me cair no esquecimento pois achei que com tanta polémica talvez nem tivesse chegado a ser lançada. Mas fiquei muito contente quando a vi ali, pronta para assistir. Cliquei sem pensar duas vezes. 

Poucas horas depois já tinha terminado. Como eram episódios curtos,  com uma media de 25 minutos (amén, séries com episódios curtos!!),  foi num instante.



A história 
A história gira em torno de um grupo alunos negros de uma conceituada universidade nos EUA,  ocupada maioritariamente por brancos. Dentro desse grupo temos Samantha White, que tem um programa de rádio intitulado "Dear White People", onde denuncia vários casos de racismo na universidade, como uma festa de Halloween onde todos se fantasiam de pessoas negras: o tal "blackface".


Por cada episódio é explorado um pouco da individualidade de cada personagem, e, com um pouco de humor, muita sátira e ironia à mistura são abordados temas super relevantes como blackface, apropriação cultural, homossexualidade, colorismo, abuso policial, hiperssexualização, estereótipos, diferenças raciais dentro de um espaço académico (no caso,  uma universidade) e até mesmo algumas hipocrisias da própria militância. 



Personagens
Diversidade e pluralidade. Quando falamos dos personagens de DWP podemos ver  o quão complexo é o ser humano. Na série, vemos o mesmo assunto abordado de diferentes perspetivas, diferentes olhares e interpretações. Temos Sam, audaciosa, destemida e completamente disposta a de fazer a diferença;  Lionel, um rapaz tímido e acanhado, à descoberta da sua pessoa, mas super corajoso nos momentos certos. Reggie, um homem negro consciente mas ao mesmo tempo um alvo, e Troy, o típico negro estereotipado que não se consegue livrar das amarras do pai, que deposita toda a responsabilidade em cima do filho. Joelle, que é uma das minhas personagens favoritas, muito assertiva e inteligente. Tenho pena que ela não tenha tido um episódio sobre ela.  E Coco, que se perserva mais da negritude e da militância e tenta encaixar-se na sociedade (vulgo elite branca). Contudo, Coco também é das minhas personagens favoritas, por de certa forma me identificar muito com as vivências e pensamentos dela enquanto mulher negra retinta em (des)construção. 


Eu gostei bastante da série. Identifiquei-me em vários momentos,  vi-me em várias personagens. Entretanto descobri que já havia sido lançado um filme em 2014. Não assisti ao filme ainda para poder fazer comparações, mas a série é sem dúvida daquelas que vou voltar a assistir (e olhem que é muito raro eu voltar a maratonar uma série, por mais que goste dela). Ironia é o meu nome do meio, portanto era quase impossível não gostar! E devo dizer que a produção e a banda sonora são qualquer coisa de maravilhoso. Porém, por alguma razão (mais à frente explicarei qual),  estava à espera de mais. Senti que alguns pontos foram abordados de forma muito leve e rasa.  Não sei se foi proposital ou não, mas, de qualquer forma, é um começo.

Espero que tenhamos uma segunda série,  mais enérgica e dinâmica. Acho que há muito potencial para isso!

Série lançada, mas pouquíssima gente fala sobre ela.  Porquê?

Well,  let's face the truth. 

A Internet literalmente quebrou com a série 13 Reasons Why e a sua temática sobre bullying e suicídio. Foram várias as correntes,  os posts,  os textões, vídeos de pessoas completamente sensibilizadas e aterradas com a série em si, e com as questões sociais abordadas nele. Eu mesma fiquei bastante arrasada com a série por tudo o que ela, de alguma forma, representa na minha vida.  Mas Dear White People é também sobre questões sociais, e seria muito bom se assim como 13RW, fosse a porta de entrada para todo um universo de processo de desconstrução e conscientização. Contudo, por alguma razão, a Internet está muito silenciosa a seu respeito. Porque um assunto tão importante como racismo parece não ter tanta importância como suicídio e bullying?  Onde estão todas as pessoas que tanto defenderam e empatizaram com pessoas depressivas e mentalmente doentes? Breaking news: racismo mata, sem dó.


Desde do lançamento do trailler nos EUA e Canadá que a série tem sido alvo de vários boicotes.  Várias pessoas tremendamente ofendidas por se sentirem expostas ao ridículo numa série que satiriza do início ao fim uma realidade que poucos assumem, ameaçaram cancelar os seus serviços na Netflix. O vídeo do trailer no YouTube conta com mais de 120 mil dislikes,  e vários comentários intolerantes.

But to be honest,  eu achei que foi feito demasiado alarido para pouca coisa. Como eu disse lá no início do post, por conta de toda essa repercussão negativa,  eu achei que a série fosse bem pesada,  mas muito pelo contrário foi muito subtil. Por um lado eu até gostei,  porque no fundo, mostrou um lado nosso mais humanizado, que a nossa vida não é sobre racismo e militância 24 horas por dia, 7 dias por semana, embora ele esteja lá, sempre. Somos mais além disso, afinal o ser humano é uma imensidão de complexidade. "Às vezes não se preocupar em ser negro também é um ato de revolução." -Joelle. Por outro,  sinto que talvez se a série tivesse outro tipo de ritmo, as pessoas não fariam tão pouco caso.

Vejo pessoas super ofendidas por serem chamadas de racistas que não param para pensar se realmente foram. E  um conselho,  parem de olhar tanto para o próprio umbigo e olhem em volta. Não é só sobre um indivíduo, não é só sobre uma pessoa branca. É sobre todo um sistema opressor. É sobre violência,  é sobre privilégios. Tentem absorver a mensagem da série,  não é assim tão difícil.

"Espero que vocês estejam aí, porque o racismo ainda está." - Samantha White.

***
Quem já viu a série,  ou quem já ouviu falar dela?  Quem já viu: o que achou? xx

6 comentários :

  1. Confesso que não conhecia essa série! :)


    A Marca da Marta

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  2. Vou já adicionar à lista das séries a ver :D Obrigada! Beijo

    thebrunettetofu.blogspot.pt
    https://www.instagram.com/thebrunettestofu/

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  3. Vi a Nataly falando sobre esse filme, por cima, ela disse q n gostou pois ele n constrói os personagens humanizados, e sim da forma como ele JÁ É tratado atualmente, bom ou mau, em vez de pessoas que tiveram um passado e que isso formou o que eles são hoje, o que acontece lindamente na série.
    Fico triste por CGB n ter tido o mesmo barulho que 13rw, esta nem assisti, porque, sinceramente, ela mexe muito com a gente, escancara um sistema que tá aí até hj e que muita gente INSISTE em dizer que não existe :/
    um beijo e adorei a resenha ♥

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  4. Parece ser um série fantástica, ainda não conhecia mas vou já procurar porque quero muito ver.
    Beijinhos
    http://virginiaferreira91.blogspot.pt

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  5. Eu vi ela em dois dias e adorei muito. Infelizmente tudo o que é mostrado ainda acontece em todos os lugares que nós frequentamos. Fico indignada com essas situações, mas temos que ser mais fortes pra ultrapassar isso e conquistar nossas coisas e nosso espaço.

    Beijos
    Mundo de Nati

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  6. Não tinha ouvido ainda falar da serie. Mas certamente que irei ver (quando arranjar um tempinho). Talvez a razão pela qual não tenha originado todo o debate que 13RW originou tenha sido o facto de que "bullying e suicídio" abrange todos, enquanto que "racismo" é visto como algo que afeta apenas uma minoria do mundo desenvolvido. Para além de que a maioria prefere não admitir que o sistema é racista, que as pessoas em si são racistas (eu mesma por vezes dou por mim a pensar "Margarida, isso foi racista, estás a ser estúpida") no seu interior e é mais fácil negar.

    Vou sem dúvida ver a série.
    Beijo
    http://blog-flor-mar.blogspot.pt/

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